Eskudo News – (26/11/2025)

O Eskudo News retorna com mais uma edição, trazendo os principais acontecimentos do último mês nos temas de cibersegurança, inteligência artificial, nuvem e inovação digital. Esta edição resume os fatos mais relevantes que impactam diretamente empresas, governos e profissionais da área.


Botnet de IA: ShadowRay 2.0 transforma clusters de GPU em mina de criptomoedas e porta de entrada para ataques avançados

A revelação da campanha ShadowRay 2.0 pelo The Hacker News expõe um ponto cego que se tornou comum em ambientes de inteligência artificial. Uma vulnerabilidade conhecida há dois anos no framework Ray, amplamente adotado para workloads distribuídos de IA, segue sem correção em muitos clusters com GPUs NVIDIA. Grupos de ameaça aproveitaram esse atraso para construir uma botnet voltada à mineração de criptomoedas, com capacidade de se espalhar de um nó para outro em redes internas de alta performance. Em vez de mirar apenas servidores tradicionais, os atacantes agora direcionam seu foco para a infraestrutura que sustenta modelos de linguagem, sistemas de recomendação e aplicações críticas de machine learning em produção.

O modus operandi da campanha explora características típicas desses ambientes. Clusters de IA costumam operar com permissões amplas, acesso direto a GPUs de grande capacidade e, frequentemente, com monitoramento de segurança menos rigoroso do que aquele visto em sistemas de negócio mais tradicionais. Uma vez comprometido um nó Ray vulnerável, o malware passa a escanear a rede em busca de outros nós expostos, replicando se e ampliando rapidamente o poder de processamento à disposição da botnet. O objetivo imediato é monetário, com mineração de criptomoedas, mas a mesma infraestrutura pode ser redirecionada para ataques de força bruta, hospedagem de ferramentas de comando e controle ou até campanhas de espionagem de alto valor.

O caso evidencia uma dissociação perigosa entre velocidade de inovação e disciplina de segurança. Nos últimos anos, muitos times de dados e de IA ganharam autonomia para montar clusters, testar frameworks e escalar workloads sem a mesma governança aplicada a sistemas considerados críticos. Em vários cenários, Ray foi tratado como componente de apoio à pesquisa, quase uma camada de infraestrutura de laboratório, e não como parte da superfície de ataque corporativa. A campanha ShadowRay 2.0 demonstra que essa visão está ultrapassada. Em organizações que já usam IA para decisões de crédito, detecção de fraude, recomendação de conteúdo ou apoio a operações industriais, comprometer o framework que orquestra essas cargas significa abrir caminho para manipulação de modelos, roubo de dados sensíveis e sabotagem de processos.

Para centros de operações de segurança e provedores de serviços gerenciados, a mensagem é direta. Frameworks de IA precisam entrar no mapa de risco com o mesmo status de bancos de dados, hipervisores e plataformas de mensageria. Isso implica aplicar patches de forma prioritária, segmentar nós de computação intensiva em redes com controles mais rígidos, habilitar autenticação forte entre componentes do cluster e registrar com mais granularidade o uso de GPU, chamadas entre nós e padrões de tráfego lateral. Alertas de uso anômalo de recursos gráficos, por exemplo, podem deixar de ser apenas um indicador de má configuração de workload para se tornarem um sinal precoce de comprometimento por botnet.

A dimensão estratégica do ShadowRay 2.0 vai além da mineração de criptomoedas. A campanha simboliza a chegada de uma nova fase em que o próprio ecossistema de IA se torna alvo preferencial, não apenas porque concentra poder computacional, mas porque guarda modelos, conjuntos de dados e pipelines que são ativos críticos de negócio. Organizações que aceleram projetos de IA sem incorporar segurança desde o desenho correm o risco de transformar seus ambientes mais avançados em pontos de vulnerabilidade central. A partir de agora, discutir segurança de IA deixa de ser tema acadêmico ou distante e passa a ser uma exigência prática para qualquer empresa que dependa de clusters distribuídos e frameworks como o Ray para sustentar sua competitividade.

Megainvasão ao sistema financeiro expõe a vulnerabilidade estrutural do Brasil digital

O ataque que desviou centenas de milhões de reais do ecossistema financeiro brasileiro não é apenas um incidente isolado ligado a uma falha pontual em Banking as a Service. Ele é a materialização de um diagnóstico que especialistas vêm repetindo há anos. O Brasil lidera o ranking de vulnerabilidade digital na América Latina, concentrando cerca de 90 por cento das tentativas de ataques cibernéticos na região, o que equivale a aproximadamente 550 mil ocorrências por dia, de acordo com análise divulgada pela Security Leaders com base em dados da Teltec Solutions. Security Leaders+1

O insight central desse estudo não é apenas o índice de ataques. O ponto mais crítico é a leitura de que grande parte das empresas brasileiras ainda trata cibersegurança como custo operacional e não como investimento estratégico. Executivos ouvidos pela publicação destacam que conselhos de administração e diretorias continuam priorizando projetos de crescimento e experiência do cliente, enquanto adiam correções estruturais, revisão de arquitetura e modernização de controles. Security Leaders

Ao cruzar os dois recortes, o de ataques massivos ao setor financeiro e o de tentativas diárias em todo o país, a mensagem fica mais nítida. Não se trata apenas de um país inovador em meios de pagamento que virou vitrine para criminosos digitais. Trata se de um ecossistema em que a superfície de ataque cresce mais rápido do que a maturidade de gestão de riscos. Dados apresentados em eventos de segurança mostram que o Brasil já lidera também estatísticas de incidentes no setor financeiro na América Latina, enquanto segue com grandes assimetrias de preparo entre bancos tradicionais, fintechs e provedores de tecnologia. Security Leaders+1

O caso da megainvasão ganha outro contorno à luz desse diagnóstico. O ataque explorou fragilidades em uma peça intermediária da cadeia de pagamentos, e não diretamente em um grande banco. Essa escolha de alvo reforça o alerta da Security Leaders sobre a importância de olhar para a superfície de risco como um todo e não apenas para os players mais visíveis. Em um cenário de 550 mil tentativas diárias, quadrilhas têm incentivo para mapear de forma sistemática elos menos protegidos, com governança mais frágil e orçamento limitado para segurança. O desfecho mostra que um provedor subdimensionado pode gerar perdas bilionárias e colocar em xeque a confiança em todo o sistema. Security Leaders+1

O insight mais valioso da análise, portanto, é que o problema brasileiro não é somente técnico. É de modelo mental. Tratar segurança como linha de despesa a ser comprimida em ciclos de orçamento leva a decisões que empilham risco. Adotar cibersegurança como pilar estratégico, como defende o especialista citado pela Security Leaders, significa envolver o conselho em decisões sobre arquitetura, priorizar a correção de dívidas técnicas, exigir planos de resposta e continuidade efetivamente testados e vincular metas de executivos a indicadores de resiliência. Security Leaders+1

Na prática, isso implica repensar o desenho do sistema financeiro e de suas cadeias digitais. Integrações via API, BaaS e novos arranjos de pagamento precisam nascer com requisitos mínimos obrigatórios de segurança, auditoria recorrente, classificação de criticidade e planos de contingência negociados desde o contrato. Reguladores que hoje correm para reagir ao episódio ganham, com o conjunto de dados trazidos pela Security Leaders, um argumento adicional. Em um país que concentra a imensa maioria dos ataques da região, não basta apagar incêndios após o próximo vazamento ou desvio milionário. Sem uma mudança de mentalidade que eleve a cibersegurança ao nível de decisão estratégica, cada inovação lançada no mercado corre o risco de se transformar no próximo vetor de crise.


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